Oficialmente, o
diplomata Luiz Alberto Figueiredo deixou a chefia da representação brasileira
na ONU para tornar-se ministro das Relações Exteriores e Antonio Patriota
deixou o cargo de ministro das Relações Exteriores para chefiar a representação
na ONU. Na prática, nada mudou. Marco Aurélio Garcia era o chanceler. E
chanceler continua, berram os desdobramentos da operação que livrou o senador
boliviano Roger Pinto Molina do cativeiro na embaixada em La Paz.
Disfarçado há mais
de dez anos de “Assessor Especial da Presidência da República para Assuntos
Internacionais”, Garcia fazia e desfazia já nos tempos em que Celso Amorim
caprichava na pose de chanceler. Com a transferência do Pintassilgo do Planalto
para o Ministério da Defesa, a boca à espera de um dentista passou a reinar sem
concorrentes no governo Dilma Rousseff. A presidente e seu conselheiro doidão
sonham com uma América bolivariana. E não admitem que algum subordinado ouse desafiar
ou desobedecer companheiros de lutas revolucionárias.
Foi o que fez o
diplomata Eduardo Saboia com Evo Morales ao libertar o senador enclausurado por
455 dias na representação em La Paz. Por ter ouvido a voz da razão, o ministro
conselheiro da embaixada na Bolívia será investigado por uma comissão de
sindicância formada pela Controladoria Geral da União. Presidida por Dionísio
Carvalho Barbosa, auditor da Receita Federal e assessor da CGU, a comissão
seria completada pelos embaixadores Clemente de Lima Baena e Glivânia
Maria de Oliveira.
Seria: os dois
recusaram a missão quando souberam das instruções do Planalto. “O Saboia deve
ser moído”, revelou a esta coluna uma fonte com acesso ao gabinete
presidencial. Para manter as aparências, Garcia ditou a declaração do novo
ministro Luiz Alberto Figueiredo: “Houve uma recomendação da CGU, que é quem
preside a comissão, de que seria melhor que eles não fossem os nomes escolhidos
pelo Itamaraty porque eles, de alguma forma, tem alguma ligação com o tema. Nós
escolhemos outros dois colegas e portanto não vai haver nenhum tipo de atraso
na sindicância”.
Os substitutos são
os diplomatas Rodrigo Amaral e Paulo Estivalet. Ambos terão de escolher entre a
dignidade e a desonra.Por Augusto Nunes - Revista Veja
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