terça-feira, 1 de abril de 2014

Dilma ou Lula tanto faz.

Já que estamos em tempos de recuperar os idos da ditadura militar, vou lembrar aqui de uma frase do general João Baptista Figueiredo, o último presidente daquele ciclo, inaugurado em 1964: “Olhem que eu chamo o Pires”. O “Pires” era uma referência a Walter Pires, ministro do Exército. Mostrou-se um soldado disciplinado, ali nos estertores da ditadura, mas era de pouca prosa. Até surgiu na época uma safra de generais que gostavam de sorrir, de fazer acenos aos críticos e tal. Não era o caso do enigmático “Pires”. E quando é que Figueiredo fazia aquilo? Sempre que julgava que a oposição ou o Congresso exageravam e tentavam ir além do que ele considerava seguro no tal processo de “abertura”. “Chamar o Pires”, ainda que dito num tom de pilhéria agressiva, significava o óbvio: dar um novo golpe e acabar com a brincadeira. E por que não chamou? Acho que é porque percebeu que não era mais possível. Adiante.
Mutatis mutandis, Lula é o “Pires” do PT. Nos bastidores, lideranças do partido vivem ameaçando, a cada vez que se evidenciam sinais de fragilidade da candidatura de Dilma Rousseff à reeleição: “Olhem que nós chamamos o Lula”. É o sonho dourado de um monte de petista e, se querem saber, de muitos empresários também. Ninguém é tão dócil com alguns tubarões da economia como Lula. Ele tem um lado, assim, melancia às avessas: vermelho por fora e verdinho por dentro. Ou, se quiserem uma metáfora mais tátil, ele se parece bastante com jaca: por fora, tem uma casca áspera, hostil, mas, por dentro, é bastante mole e melequento, gelatinoso mesmo.
O “vamos chamar o Lula” voltou a ser repetido com muita frequência nos bastidores do partido na semana passada, quando veio a público a pesquisa Ibope indicando uma queda importante na popularidade de Dilma. A questão existe não é de hoje. Não custa lembrar que, ainda em 2011, no primeiro ano do governo Dilma, Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e espião do Apedeuta no Palácio, falolu em Lua como “o nosso Pelé”, sugerindo que o PT tem no banco o melhor jogador. Ou por outra: se Dilma for um risco, chame-se o Pelé barbudo.
Nesta segunda, o tucano Aécio Neves referiu-se a possibilidade da volta de Lula à disputa em palestra concedida a empresários ligados ao LIDE, grupo que reúne empreendedores de São Paulo. Afirmou: “Ouço sempre que pode haver mudança da candidatura do governo. Para mim, não importa se será Lula ou Dilma. O que eu quero é derrotar o modelo que aí está”.
O pré-candidato tucano faz muito bem em tocar no assunto, pondo às claras essa história de que Lula chega e toma a Presidência como e quando quiser. Se acontecer, terá de ser com o voto do eleitorado. Ele disputar ou não é um problema dos petistas e de Dilma, não das oposições. Esse negócio do “olhem que nós chamamos o Lula” é só mais uma tentativa de intimidar a oposição.

Por Reinaldo Azevedo - da revista VEJA

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