Os gestores de Regimes Próprios de Previdência Suplementar (RPPS) e dos fundos de pensão alocam os recursos dos associados em busca de uma rentabilidade que supere a meta atuarial (inflação mais 6% ao ano) do plano de benefícios e levando em conta os parâmetros técnicos exigidos pelo legislador. Buscam, desta forma, garantir o cumprimento dos compromissos do plano, como o pagamento de aposentadorias e pensões. Essa tarefa, entretanto, deverá ser cada vez mais difícil nos próximos anos. As contribuições, isoladamente, não são suficientes para o pagamento dos benefícios previdenciários, tendo em vista a inflação que sempre atua reduzindo o valor do dinheiro no tempo.
Assim, é necessário alcançar retornos reais, ou seja, acima da inflação, para os investimentos realizados com os recursos das contribuições. A finalidade é garantir o plano de pagamento de um determinado benefício no futuro. A utilização da meta atuarial considera o valor que será necessário contribuir e o período, para que mais à frente o participante obtenha o seu benefício. No atual contexto brasileiro, as metas atuariais consideram uma inflação próxima de 6,5% nos últimos 12 meses, mais uma parcela de retorno real na ordem de 6% ao ano, garantindo assim o cumprimento do pagamento dos benefícios previdenciários. Logo, são exigidos retornos sobre a carteira de investimentos dos planos superiores a dois dígitos já líquidos, ou seja, após o pagamento de despesas administrativas e taxas. Caso contrário, coloca-se em risco a capacidade do plano de cumprir com seu objetivo de longo prazo e, como consequência, pode ser necessária uma maior contribuição ou a diminuição dos benefícios futuros.
As carteiras de investimento dos RPPS e dos fundos de pensão no Brasil concentram seus recursos em papéis de renda fixa. No Brasil, olhando pelo retrovisor, a renda fixa sempre foi capaz de entregar o retorno mínimo necessário para o cumprimento das exigências atuariais impostas aos planos previdenciários. Porém, a realidade atual exige mudanças na política de alocação dos recursos. É preciso reavaliar certos ativos que possuem perspectivas de rentabilidade menor que a meta atuarial, com retornos, descontada a inflação, abaixo de 6%, como é o caso de algumas NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional – Série B) muito procuradas. Nesse cenário, os gestores dos RPPS e fundos de pensão não podem prescindir de uma parcela investida na renda variável e devem inclusive aumentá-la, como forma de tornar o portfólio de investimento mais equilibrado. O horizonte de investimento nos regimes previdenciários é de longuíssimo prazo e a sua necessidade de liquidez é distribuída em períodos maiores, o que torna a alocação na renda variável uma alternativa com potencial elevado de retorno para a carteira e com risco bastante diluído no tempo.
O aspecto-chave deve ser aumentar a compreensão sobre o processo de gestão ativa em ações e utilizar ferramentas para avaliação dos gestores de ações que, de forma recorrente, conseguem entregar resultados consistentes em diferentes ambientes macroeconômicos. A escolha do gestor de portfólio de ações deve passar pela análise do seu desempenho histórico, do comportamento em situações de crise e, nestes casos, como procedeu na defesa ativa do portfólio — identificando a boa relação de risco e retorno na carteira —, a capacidade de “fazer
diferente” de forma simples e, sobretudo, a consistente habilidade de geração de “alfa” (retornos excedentes para o fundo) sem assumir mais riscos (“beta”) para o portfólio de ações. Entre as características cognitivas, devem ser destacadas a capacidade técnica, coerência organizacional, baixa rotatividade e integridade pessoal e profissional. E, não menos importante, uma avaliação plena sobre o funcionamento dos processos de governança da gestora, que devem estar
detalhados e possuir qualidade diferenciada.
O mercado de ações ainda é visto com desconfiança para a diversificação dos investimentos. A primeira experiência em renda variável muitas vezes ocorre com o aporte de recursos em fundos passivos (que seguem um determinado índice benchmark). Neste caso, a falta de uma gestão ativa pode comprometer consideravelmente o desempenho da carteira de ações em períodos macroeconômicos desfavoráveis e, ainda, expor o investimento a riscos desnecessários. O exemplo de análise de investimento em um fundo ativo é avaliar o cenário macroeconômico e setorial (“top down”) e as oportunidades individuais de investimento (“bottom up”), sempre privilegiando uma análise fundamentalista detalhada, procurando por ações de companhias com modelo de negócios com margens saudáveis e elevado retorno sobre o capital investido (“ROIC”), sólidas barreiras de entrada de novos concorrentes, além de uma dinâmica de previsibilidade e recorrência de alto crescimento com rentabilidade.
A constituição de um portfólio diversificado, com várias classes de ativos, principalmente em ações, e com retornos compatíveis à necessidade de superar as metas atuariais, se torna quase que uma exigência. Dificilmente será possível obter retornos para os investimentos que alcancem uma rentabilidade real de 6% ao ano, principalmente mantendo-se uma parcela muito maior investida em ativos financeiros de baixo risco.
Carlos Eduardo Rocha (Duda) é sócio-fundador e responsável pela área de asset management do banco de investimentos Brasil Plural.
Valor Econômico 17/06/2014
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quarta-feira, 18 de junho de 2014
GESTOR PREVIDENCIÁRIO E A RENDA VARIÁVEL (Por Carlos Eduardo Rocha)
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