Concluso o processo eleitoral, onde o povo ainda participava e já de posse dos resultados sentenciava-se algumas decisões pelos que que acompanhavam o pleito. Considerados radicais, mas por vezes muito racionais sempre opinavam mas eram considerados exagerados e tendenciosos. Inclusive eu era visto com extrema desconfiança devido minhas opiniões. Declaro que no afã de colaborar com a discussão externava com detalhes as razões que indicavam tal situação. Agora passados apenas 10 dias do propagado momento democrático vivido percebemos que não só eu, mas muito estavam certos e procuraram alertar para tal situação. Poderíamos citar capas de jornais, revistas, jornais, sites, manchetes de inúmeros programas televisivos, de rádios ou similar para demonstrar o que todos sabiam, mas buscavam não compreender ou acreditar. Os textos a seguir assinado por Roberto Altenhofen destaca entre outras situações um pouco do que muito foi falado no período pré eleitoral, para muito considerado exagero:
00:21 Dez dias de estelionato
Completamos dez dias de reeleição confirmada. A pergunta de um bilhão de dólares continua: teremos à frente quatro anos semelhantes aos anteriores ou uma versão atualizada do Lula I?
Por ora, temos de concreto:
Aumento da taxa básica de juro, promessas de política fiscal mais austera, com elucubrações envolvendo a retomada da CIDE e da CPMF, sugestão de nomes do mercado financeiro para tocar a Fazenda, incluindo dois banqueiros, possibilidade de falta de energia programada nas madrugadas de janeiro, alta das tarifas de energia e autorização ministerial ao reajuste dos combustíveis.
Tudo isso permeado por uma dura realidade:
Revisões para baixo nas estimativas de crescimento, o pior resultado fiscal de toda a série histórica, problemas para auditar o balanço da Petrobras, o maior déficit na balança comercial em 16 anos, queda inesperada da produção industrial...
Confesso uma curiosidade pessoal: o que estaria na cabeça de Neca Setubal neste momento, defenestrada na campanha eleitoral, ao ver Trabuco cotado para o ministério da Fazenda?
Comparar os parágrafos anteriores com o discurso de campanha é vergonhoso.
Acuse os adversários do que você faz, chame-os do que você é.
00:40 Petrobras como exemplo
Por mais incrível que possa parecer, entendo que Dilma deva se parecer no segundo mandato mais consigo mesma do que com Lula.
Enquanto se debruçam sobre sinalizações daqui e dali para o próximo ministro da Fazenda, recorro a um caso particular para argumentar em favor do geral. Entendo que a reunião do Conselho de Administração de Petrobras é sinal da profundidade do ajuste de política a que o novo governo Dilma está disposto.
Conforme narram as notícias, depois de já ter havido o adiamento da conclusão da reunião do Conselho, o ministro Guido Mantega teria autorizado reajuste dos combustíveis para a Petrobras.
De quanto, quando e como?
Essas questões “menores”, ainda sem resposta.
Funciona assim: distribuem-se pequenas migalhas ao mercado (no caso, “Mantega autoriza reajuste), mas sem nenhuma transparência (vale pontuar frase de Graça Foster: “reajuste não se anuncia, se pratica”), tampouco definição sobre prazos e profundidade.
Tentam vencer o debate sem ter razão. Mas, como não são Schopenhauer (sonha!), dificilmente conseguirão convencer por muito tempo.
Dada a situação periclitante, sobretudo nas contas públicas, é evidente que haverá flertes e sugestões em favor da ortodoxia, com direito a promessa de ajuste fiscal. Agora, para mudar sua essência, de fato, precisaria muito mais.
As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras, resumiria Nietzsche.
01:38 Sobre o ministro da Fazenda
Sob essa prerrogativa, o nome de Nelson Barbosa surgiria como mais provável para o ministério da Fazenda. Que fique claro: acho Nelson Barbosa excelente economista e, capaz, sim, de ser um bom ministro.
Há de se elogiar ainda sua integridade e honestidade intelectual, por ter deixado o governo diante de discordância com o rumo da política econômica.
Entretanto, Nelson não chegaria com o tamanho da reputação de Meirelles ou Armínio, de tal sorte que o ajuste com ele, para resgatar a confiança de fato, teria de ser mais pronunciado. Obviamente, ajustes “violentíssimos” trazem dor no curto prazo - e o Governo, por ideologia e falta de apoio político, não parece disposto a tolerar essa dor.
É evidente que o nome ainda pode ser Henrique Meirelles, principalmente porque, para os gramscinianos, independente do cargo atual, importa a hierarquia do partido e do Moderno Príncipe. Nesse caso, Lula seria mais relevante até do que a própria Dilma.
Meirelles, se confirmado, seria recebido de forma positiva pelos mercados. Se será sustentável?
Não acredito.
Há mais mistérios entre a economia e o ministério da Fazenda do que julga vã filosofia.
Citando o brilhante Marcos Lisboa em seu artigo na Folha de segunda:
“Desanimando os mais esperançosos, a escolha do ministro será insuficiente para uma mudança de rumo. Os números disponíveis e as restrições legais justificam o ceticismo(...) O enfrentamento do grave quadro fiscal requer um governo que reconheça as dificuldades e viabilize politicamente as reformas necessárias para a sua superação, e não apenas que atribua os problemas à crise externa e a uma temporária baixa confiança do setor privado.”
02:42 O ajuste virá
A combinação de uma herança complicada de fundamentos, ideologia atrasada e base de apoio político (sindicatos e movimentos sociais) contrários à ortodoxia torna a hipótese de um ajuste, na intensidade e na extensão necessárias, improvável.
Seja como for, o ajuste virá, imposto: o mercado fará a correção. Para isso, cobrará o seu preço.
Com qual cenário trabalhamos?
Juro real longo de 7% e Ibovespa a 13 mil pontos em dólar (mais ou menos 40 mil pontos em reais).
03:34 Seus filhos também estarão mortos no longo prazo?
Há quem diga que o atual governo é keynesiano - a rigor, ou entenderam Keynes totalmente errado ou não são keynesinanos. Simples assim.
Em resposta à clássica frase de que no longo prazo todos estaremos mortos, de Keynes, Niall Ferguson lembrou que essa só poderia ser mesmo uma preocupação de quem não tinha filhos (omito o restante por questão de elegância).
Devemos, sim, pensar a longo prazo. Se 2015 reserva um importante ajuste no preço dos ativos brasileiros, havemos de pensar que o País é recheado de oportunidades, que podem e devem ser exploradas a médio e longo prazo.
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04:19 Não compactuo com estelionato
Deixo uma última observação aos torcedores em prol da continuidade do estelionato eleitoral pelo governo. Àqueles que compactuam com isso, simplesmente porque essa alternativa é superior à continuidade da nova matriz econômica, reservo a pergunta: se Dilma, ao adotar medidas que há poucos dias criticou duramente, mente a seus próprios eleitores, o que poderá fazer com o mercado?
Não posso compactuar com a ideia de que esse tipo de postura possa ser positiva ao País no longo prazo.
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