O ANTES E O DEPOIS, FALAR uma COISA e FAZER OUTRA, estas atitudes tiram o crédito dos políticos, principalmente quando o discursos e a prática é dos maiores líderes da nação. Se o povo elegeu tal proposta, por que a execução é do outro.
Com Kátia Abreu e aceno
pró-mercado, novo ministério é a antítese da Dilma-candidata.
Veja o texto do jornalista Matheus Pichonelli – em 22 de novembro de 2014 - do br.noticias.yahoo.com
Amigo petista, amigo tucano. Tente puxar pela memória o que você
fazia na manhã de 22 de outubro de 2014. Há exato um mês, se bem nos ajuda a
memória, os primeiros pegavam em armas para defender as conquistas sociais, a
estrada rumo ao igualitarismo, a vitória dos trabalhadores contra o capital.
Os últimos, por sua vez, espalhavam adesivos e empunhavam
bandeiras contra o Estado Máximo e o tal bolivarianismo, esse risco enorme de
dormir num quarto pago a prestações e acordar com dois ou três sem-tetos
cubanos na sala de visitas.
A batalha retórica, alimentada por militantes e candidatos,
recolheu os panos tão logo foi encerrada a campanha. O líder oposicionista fez
um ou outro discurso anti-tudo isso que está aí e tirou férias. Aos vencedores
sobraram as batatas e o abacaxi, ilustrado pela posição do noticiário em 22 de
novembro do mesmíssimo ano. Neste dia, quem quisesse saber das noticias de
política tinha de ler o caderno de economia. E quem quisesse saber dos
desdobramentos da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, tinha de ler o
caderno de política. É como se, encerradas as eleições, o noticiário político
puro evaporasse para um plano ideal. No chão, ele se divide entre o dinheiro e
o caso de polícia. Daí talvez o estranhamento de quem condena as supostas
malversações entre público e privado, mas aceita de bom grado dações
empresariais para campanha.
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado
Durante a eleição, Dilma e o estafe petista atacaram com todas as
armas as relações dos oposicionistas com o mercado. Marina Silva foi metralhada
por sua proximidade com uma herdeira do Itau e sua proposta de independência do
Banco Central. Aécio Neves foi triturado por resgatar o “cozinheiro” da
recessão: corte de despesas, aumento de juros, retração do consumo, redução dos
salários e do poder de compra. Quem acompanhou os debates na tevê tinha a
impressão de estar diante de um embate de modelos bem claros de
desenvolvimento: mal resumindo, um pró-patrão, outro, pró-trabalhador. O nó é
que sem os primeiros não se governa, e sem os segundos, não se ganha eleição.
Mas quem ganha a eleição precisa governar, e isso em si despacha a
principal dúvida sobre o caminho a ser seguido pela presidenta reeleita neste
segundo mandato que já começou: se ela radicalizaria as mudanças exigidas pelos
movimentos que aderirem em peso à sua campanha (reforma política, lei da mídia,
reforma agrária, taxação de grandes fortunas, mais regulação do sistema
financeiro, punição a desmatadores, etc) ou se levantaria a bandeira branca ao
mercado que a rejeitava.
A montagem do novo ministério é uma resposta a qualquer dúvida. E
torna quase ridículas as brigas fratricidas entre eleitores diante de projetos
antagônicos apenas na retórica. Pois, uma vez reeleita, foi a um banqueiro (sai
o Itaú, entra o Bradesco) que Dilma Rousseff recorreu para compor a
“credibilidade” de seu Ministério da Fazenda. Esse era o plano A. O plano B é
um nome mais próximo de Arminio Fraga, o famigerado ministro nomeado antes da hora por
Aécio Neves, do que de qualquer símbolo da ala desenvolvimentista que semanas
atrás provocada uma guerra em defesa do modo petista de governar. Joaquim Levy
estudou em Chicago, trabalhou para o FMI, tem passagem pelo governo FHC, é
crítico do papel do BNDES, do controle de preços da atual gestão, do “tentáculo
monopolista” da Petrobras e já referendou a tese dita liberal pela
independência do Banco Central. Bastante bolivariano, não? Pois se fosse
anunciado como colaborador de qualquer adversário na campanha, tornaria-se alvo
fácil dos bombardeios petistas.
Para fechar o governo supostamente popular, o restante da equipe
foi recrutado em duas confederações nada populares, para dizer o mínimo: a
Confederação Nacional da Indústria e da Agricultura.
Armando Monteiro (PTB-PE) deve assumir o ministério do Desenvolvimento
e Katia Abreu, o da Agricultura. A ministeriável, só para lembrar foi alvo, no
ano passado, de uma ação das mulheres do Movimento de Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST) na fazenda Aliança, em Tocantins, de propriedade de sua
família. A ação visava denunciar a suposta relação da ruralista com trabalho
escravo, crime ambiental e grilagem de terras. A manifestação ocorreu no dia 7
de março. Na época, em nota divulgada sobre o acontecimento, Kátia Abreu
chamou o MST de “movimento dos sem lei” e a Via Campesina, de “milícia”. É
neste ambiente que ruralistas e movimentos sociais iniciam os futuros acordos
no novo velho governo - mas apenas uns fizeram campanha para a então candidata
petista.
A escolha pode até dar certo, mas, a essa altura, a distância
entre intenção e gesto de candidatos e mandatários parece transformar a base
eleitoral, esta que ganha jogo, numa balsa em direção à miragem.
Quando nasceu uma das filhas do fluminense Chico Buarque, o amigo
flamenguista Ciro Monteiro presenteou-a com uma camisa do Rubro Negro. Chico
respondeu com uma de suas músicas mais felizes: “um pano rubro-negro é presente
de grego, não de um bom irmão; nós, separados das arquibancadas, temos sido tão
chegados na desolação”. Foi mais ou menos esse o teor da conversa que pautou o
debate até outubro: a cor da camisa.
A possível nomeação,
no novo governo, de tudo o que Dilma Rousseff jurava combater em campanha é a
maior prova de que os eleitores que se estapearam por um Fla x Flu quase
teatral podem agora se dar as mãos e redirecionar o revide, este escancarado em
edição educativa nas notícias de uma carceragem em Curitiba. A desolação é uma
bandeira multicor.
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