Vale lembrar que, em 2010, o presidente da
BM&FBovespa, Edemir Pinto, projetava atrair para a bolsa 5 milhões de pessoas físicas em cinco anos – depois mudou o prazo
para 2018, mas a meta ainda está muito distante: A Bovespa encerrou o ano de
2013 com 589.276 participantes. O número considera cada CPF cadastrado em cada
agente de custódia, ou seja, o mesmo investidor pode ser contabilizado mais de
uma vez caso possua conta em mais de uma corretora. O total é 0,36% superior ao
de 2012 – e 3,54% inferior ao de 2010, quando a Bovespa teve seu maior número
de participantes nos últimos anos: 610.915.
Em
maio do ano passado, o número de pessoas físicas chegou a 637.198. Aquele foi o
mês da oferta pública inicial do BB Seguridade, que atraiu muitos
participantes. Daí até o final do ano, o número caiu, assim como o Ibovespa e
ações, até então, muito significativas dentro do índice.
Em
2013, a Bolsa ficou marcada pelo desempenho trágico das ações do Grupo X. “A imagem
ficou prejudicada”, segundo William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças
da FGV-EAESP. A OGX tinha um papel relevante no principal índice da bolsa brasileira,
o Ibovespa – que mudou sua metodologia no ano passado – e passou a valer centavos,
além de ficar fora do Ibovespa segundo a nova metodologia.
A
imagem de que a Bolsa é um casino ficou reforçada, segundo Eid. O professor
defende que a Bolsa pode ser interessante para todo mundo, mas ganha dinheiro
quem é disciplinado.
A
existência de taxas de juros elevadas no Brasil é quase um convite a manter o
dinheiro fora da Bolsa, segundo Michael Viriato, coordenador do Laboratório de
Finanças do Insper. A relação entre o índice S&P 500 e o retorno de títulos
nos Estados Unidos – vantajosa para a Bolsa – é o oposto do que ocorre no
Brasil, segundo o professor.
Bovespa encerrou 2013 com 589.276 participantes, número 0,36% superior ao de 2012
- Número
de participantes segue próximo da estabilidade desde 2010; alta taxa de juros é
um dos causadores de desinteresse, segundo especialista
Segundo Eid, investir na Bolsa ainda é
complicado, especialmente quando o investidor pensa que durante toda a sua vida
ganhou mais na renda fixa. “Em 2007, prevíamos 70 mil pontos para a Bolsa.
Hoje, está por volta dos 46 mil pontos e ladeira abaixo. É muito complicado. O
sujeito olha para a Bolsa como um negócio de muito risco. Outro problema é que
não conseguimos criar uma cultura de investimento de longo prazo”, afirmou.
De forma geral, as pessoas também não sabem
como investir, segundo Viriato. “Às vezes a pessoa tem o dinheiro mas acha que
Bolsa é para quem tem milhões”, afirmou. Para Viriato, um valor suficiente para
uma pessoa diversificar seu portfólio e começar a investir na bolsa de valores
é 50 mil reais.
Para Viriato, além do desconhecimento, há a
má orientação com relação a investimentos e ao perfil adequado de investidor
para a Bolsa de Valores. Há pessoas que não tem o perfil, por serem mais
conservadoras. “Muita gente taxa a Bolsa como um grande jogo porque não
conhece, é mal orientada e não tem o perfil adequado”, afirmou Viriato.
Eid cita ainda um fator cultural das
empresas. Em países como o Brasil, Alemanha e Espanha, as companhias buscam os
bancos para financiar seus projetos – enquanto nos EUA e Japão, por exemplo,
elas procuram a Bolsa.
Segundo Viriato, para a pessoa investir
diretamente em ações – e não através de fundos – é necessário haver uma das
duas condições: ter alguém que oriente em que investir ou ter um conhecimento
muito bom do mercado.
Por: Beatriz Olivon - repórter de Mercados de EXAME.com
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