Presidente Collor sofreu impeachment, em 1992, e foi cassado pelo Senado
CPI revelou esquema do empresário PC Farias, que pagava despesas do presidente e de sua mulher. 'Ex-caçador de marajás' foi proibido de exercer cargos públicos por 8 anos
Pela primeira vez, no Brasil, um presidente eleito pelo voto direto foi afastado do cargo, por envolvimento em denúncias de corrupção. No dia 29 de dezembro de 1992, o "caçador de marajás" Fernando Collor de Mello, eleito em 1989, foi expulso da Presidência.
As denúncias surgiram em seu próprio quintal. Em fevereiro de 1992, o empresário Pedro Collor, irmão e arquiinimigo do presidente, revelou os detalhes de uma rede de tráfico de influências no governo. As denúncias, investigadas por um Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso, levaram à descoberta da rede de corrupção. Na campanha, Paulo César Farias, o PC, tesoureiro do então candidato, arrecadara contribuições milionárias de empresários, com o argumento de que Collor era a única alternativa viável para derrotar Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT).
Após a posse de Collor, as chamadas "sobras de campanha" - somadas a uma fortuna obtida através de transações com usineiros - foram depositadas na conta da EPC, empresa de Paulo César Farias. No decorrer do governo, o esquema PC continuou arrecadando propinas, engordando as contas bancárias de políticos e pagando as despesas pessoais de Collor e de sua mulher, Rosane. Com a extinção do cheque ao portador, o esquema PC começou a usar "fantasmas". Estes movimentaram pelo menos US$ 32,2 milhões. Nas ruas das principais cidades do país, estudantes - os caras-pintadas (com as cores verde e amarelo no rosto) - pediam ao lado de manifestantes de outros setores da sociedade a saída de Collor, num processo que terminaria no impeachment. Nas passeatas do movimento dos caras-pintadas, eles cantavam o jingle "Ai, ai, ai, ai, se empurrar o Collor cai".
Concluído o relatório da CPI, Collor foi julgado pela Câmara, que, em 29 de setembro de 1992, autorizou o processo de impeachment por 441 votos a 38. A Casa autorizou o Senado a processar Collor, por crime de responsabilidade, devido ao seu envolvimento no esquema de corrupção montado por PC Farias. No dia 2 de outubro, após 932 dias de governo, Collor foi afastado da Presidência. Sob vaias e de mãos dadas com dona Rosane, deixou o Palácio do Planalto pela porta dos fundos. No mesmo dia, o vice-presidente, Itamar Franco, assumiu interinamente o governo. O destino de Collor seria decidido no Senado, mas manifestantes já festejavam nas ruas gritando o slogan "Fora, Collor! Fora, Collor". Em São Paulo, o povo ocupou o Vale do Anhangabaú para comemorar a saída do ex-governador de Alagoas da Presidência da República.
Antes do julgamento no Senado, mais escândalo: Collor e PC forjaram documentos para sugerir que aquele dinheiro vinha de um empréstimo para campanha feito no Uruguai. O presidente afastado demonstrou fôlego, negando as acusações até o fim. E ainda convocou os eleitores a vestirem verde e amarelo, no domingo anterior ao julgamento. Em resposta, o povo vestiu preto. No dia da votação, ele renunciou ao mandato. Na mesma data, o dia 29 de dezembro, Itamar Franco assumiu em definitivo a Presidência do país. E, por decisão do Senado (76 votos a 3), Collor acabaria cassado, sendo proibido de exercer cargos públicos por oito anos.
Adeus. Collor, afastado pelo Congresso, e a mulher Rosane acenam antes de embarcar no helicóptero no Palácio do Planalto Ricardo Stuckert 02/10/1992 / Agência O Globo
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