Vindo de São Paulo, toda segunda-feira pela manhã o dr.Ulysses chegava a Brasília. No aeroporto, esperava-o o fiel motorista, para o ritual de todas a semanas:”boa viagem, deputado? Dê-me sua valise. Vamos para onde?”
Uma gravação não responderia melhor, ainda que com o passar dos anos o endereço variasse: o apartamento simples de deputado, a mansão de presidente da Câmara e eventualmente o palácio do Planalto, quando substituía o presidente José Sarney durante suas viagens ao exterior. Numa temporada morou no apartamento oficial do senador Nelson Carneiro, seu colega do PSD, que havia sido acometido de uma isquemia cerebral transitória. Estava solteiro e não podia dormir sozinho. Seus amigos do antigo partido tiraram no chapéu e no papelzinho a “sorte” para saber quem moraria com ele no imóvel para saber quem tomaria conta de sua saúde.
Em todas as viagens a vetusta resposta era a mesma: “vamos para casa, meu caro..” De lá, após trocar de roupa, a semana não mudava: seguia para a Câmara, onde ocupava a presidência da Casa, a presidência da Assembleia Nacional Constituinte e a presidência do PMDB. Almoçava e jantava no restaurante Piantella, com grupos de amigos, sem dispensar o “poire”, seu aperitivo preferido.
Certa segunda-feira, o “velho” chegou adiantado ou atrasado, não encontrando o motorista. Esperou cinco minutos e, apressado como era, pegou um taxi. “Para onde, dr.Ulysses?” “Ora, para casa, meu caro.”
O profissional tomou o caminho do Plano Piloto mas perdeu-se nas entradas das vias, pois não sabia a que superquadra dirigir-se. Nem o dr. Ulysses, que de Brasília entendia muito pouco. Várias voltas foram dadas e ele acabou mandando rumarem para a Câmara.
A historinha se conta a propósito de situações onde os improvisos substituem as necessidades, desde que naturalmente ordenada com as contingências.
A presidente Dilma anda desarvorada, e não apenas em Brasília, que conhece menos do que o dr. Ulysses, mas no Brasil. Não sabe para onde dirigir-se, se é para combater o desemprego. No Palácio do Planalto, quem convocará para traçar um programa de pleno emprego? O tal Congressão deu em nada, sem que Madame apresentasse um roteiro de obras públicas ou recebesse um elenco de iniciativas do empresariado, dos sindicatos, das regiões, dos partidos políticos ou das universidades. Câmara e Senado dão-se as costas. Os militares aguardam um chamado que felizmente não virá. Enquanto isso, sobem impostos, taxas e tarifas, multiplica-se o custo de vida, saúde e educação públicas caem no despenhadeiro e as esperanças de melhoria ganham o espaço. Falta o dr.Ulysses, que mesmo sem ter sido presidente, encontrou um taxi...
Texto de Carlos Chagas
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