Tradicionalmente considerado o último elo da cadeia alimentar, o ser
humano, segundo equipe de pesquisadores, se situa, na verdade, no mesmo nível
da anchova
da
Homem com cabeça de
anchova: equipe calculou pela primeira vez o nível trófico do Homem, que
determina a posição de uma espécie na cadeia alimentar
Paris - O Homem é
tradicionalmente considerado o último elo da cadeia alimentar. "Isto é
falso", assegura uma equipe francesa de pesquisadores, para quem o Homem
na verdade se situa no mesmo nível da anchova, bem longe do posto de um
predador de topo de cadeia como o urso polar.
Para chegar a essa
conclusão um tanto embaraçosa, a equipe do Ifremer/Instituto de Pesquisas para
o Desenvolvimento/Agrocampus-Oeste, calculou pela primeira vez o "nível
trófico" do Homem. É esse indício que determina a posição de uma espécie na
cadeia alimentar.
"É verdade que
não há ninguém acima do Homem", ou seja, ninguém para devorá-lo, admitiu
em declarações à AFP Sylvain Bonhommeau, principal autora do estudo publicado
esta semana nos Anais da Academia Americana de Ciências (PNAS). Mas ele não é o
superpredador que costumamos apresentar, ao menos em termos de alimentação.
O nível trófico de
uma espécie se dá em função de sua dieta alimentar. Os vegetais, que são os
primeiros produtores de material orgânico, pertencem ao primeiro nível trófico.
Os herbívoros ocupam o segundo nível. Os carnívoros, predadores que se
alimentam dos herbívoros, ocupam os níveis superiores. O nível trófico
representa, portanto, "o número de intermediários entre os produtores
primários e seus predadores", explicaram o Ifremer e o IRD em um
comunicado.
Utilizando dados da
FAO sobre o consumo humano no período
1961-2009, os cientistas definiram um nível trófico 2.2 para o Homem, em um
nível próximo ao de uma anchova ou de um porco. Os predadores superiores, como
o urso polar e a orca, podem alcançar um nível trófico 5.5.
Os cientistas também
analisaram as diferenças de nível trófico humano por zonas geográficas. O
Burundi foi o país com o menor índice: com um índice de 2.04. O regime
alimentar dos burundineses "deve ser composto quase 97% por plantas",
estimaram os pesquisadores. A Islândia, ao contrário, ficou no nível mais
elevado (2.54), que corresponde a um regime alimentar majoritariamente
carnívoro (de mais de 50%), devido a uma dieta rica em peixes.
Mesmo que o Homem não
seja, ao contrário da ideia comumente aceita, um predador superior, os
cientistas constataram, entretanto, um aumento de 3% no nível trófico humano no
curso de cinquenta anos. "Este aumento mostra que a alimentação do homem
tem um impacto mais importante sobre seu ecossistema", argumentaram os
cientistas.
Sylvain Bonhommeau destacou, por outro lado, que "o impacto do
Homem sobre o ecossistema é bem maior do que o da sua alimentação".
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