segunda-feira, 30 de maio de 2011

Lançamento do livro Poemas Famintos, de Valmor Bordin


Dia 1º de Junho, a partir das 18h30, na Revisteira e Livraria Ramires

Dois mundos aparentemente distantes, por vezes a medicina e a literatura se encontram. Anton Tchekov, Arthur Conan Doyle, Guimarães Rosa, Dyonélio Machado: todos divididos entre o dom da cura e a doença das palavras, numa mistura que não poderia acabar senão em relatos vigorosos e cheios de humanidade, visivelmente escritos por mãos e mentes acostumadas a encarar a vida e a morte de muito perto.

Sem explicação além do contato íntimo com o drama da vida humana e uma curiosidade nata de sua profissão, o médico escritor coloca no papel a angústia de lidar diariamente com uma matéria frágil, mas também perturbadora, que jamais se permite aprisionar. Assim, exatamente, como fazem as palavras utilizadas por Valmor Bordin em seus sessenta e seis Poemas Famintos.

Psiquiatra passo-fundense, ele junta-se humildemente a uma lista de homens que se dividem entre a medicina e a escrita, oferecendo sua visão a respeito de temas como a infância, a velhice, a morte, a solidão e a loucura. Nessas pequenas doses de devaneios construídos através de experiências pessoais, ele deixa transparecer a carga emocional de muitos outros personagens que passam por sua vida, como se vê no poema Sofreres: “É estranho o sofrer que abrigo/ que o acaso me deu/ são tantos sofreres comigo/que não sei qual sou eu”. Aqui ressoa a voz de pacientes que vem e vão, por vezes aliviados, deixando para trás uma agonia que só se pode desfazer desta maneira.

Tendo a mente humana como objeto de estudo, Bordin percorre caminhos obscuros em sua profissão e os traduz em literatura, como já fez nas obras Voo rumo às asas – A arte e o vínculo como remédio, em que desvenda os tênues limites entre genialidade e loucura por meio da produção artística de pacientes esquizofrênicos, e O quase-nada, que reúne fortes e autênticos contos interligados pelas diferentes maneiras de se lidar com o drama do luto.

Em Poemas Famintos, encoraja-se a dar passos mais distantes, mergulhando ainda mais para dentro da ficção literária, porém sem jamais abandonar aquilo que caracteriza o seu grande dom. No irônico Eletrocardiograma, passeia pelos termos médicos os transformando em poesia: “Entre sístoles e diástoles/ prolapsos da válvula mitral/ meu coração se mantém (...) Tenho veias, amigo! Sei o que digo/ conheço o coração abrigo”.

Publicado pela editora Dublinense, de Porto Alegre, Poemas Famintos começa a se explicar logo na bem escolhida epígrafe de Clarice Lispector. “Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença”. Em uma visível tentativa de devorar uma ilusão de passado formada por sua própria história iniciada no campo e construída não sem dificuldades durante décadas, o psiquiatra Valmor Bordin revela a profundidade existente em cada ser humano onde ainda resta um pouco de sensibilidade.

Assim, intensamente elogiado pelo poeta Armindo Trevisan, que assina o prefácio e define seus poemas como “um novo sopro de vida, carregado de uma pulsação terruña e uma cintilante exuberância”, Bordin convida estes sensíveis sobreviventes a embarcarem nessa jornada de lembranças, ilusões, descobertas e reflexões preenchidas por imagens invernais e silenciosas, como no melancólico poema Solidão. “Solidão vem! Tempestade verde pálida/ vento frio açoitando lombos/ No meio da noite/ penetrando ausências/ em minha costela dolorida/ Juro! Não mover músculo algum/ até que os papéis das gavetas/ rebocadas de escuridão/ confessem seus segredos/ palavra por palavra”. Poemas Famintos é um brinde à fome que move homens na direção de seus sonhos, como a que levou este médico a se tornar escritor.


O autor

Valmor Bordin nasceu entre Bela Vista e Barão Hirsch, povoados de pequenos agricultores de origem italiana e judaica, pertencentes ao município de Jacutinga, Rio Grande do Sul. Cursou Medicina na UPF, e hoje atua como psiquiatra em Passo Fundo. É autor de Poemas famintos (2011) e O quase-nada (2010), ambos publicados pela Dublinense, e Voo rumo às asas – a arte e o vínculo como remédio (2009).Venceu concursos de poesia e de contos, e participou de diversas antologias, como 30 contos imperdíveis e Inventário das delicadezas. Conheça o site do autor em www.diga33.med.br.


O lançamento

Coquetel de lançamento do livro Poemas Famintos, de Valmor Bordin

Local: Revisteira e Livraria Ramires,

na avenida Brasil Oeste, 199, ao lado do Banrisul

Horário: das 18h30 às 21h

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