terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

EIKE, SELIC E OUTROS VILÕES MOSTRAM PORQUE A BOLSA ESTAGNOU

 São Paulo – Em 2013, de cada 100 reais negociados em ações, 15,20 reais foram de pessoas físicas. Esse é o menor percentual desde 1998. No ano passado, a participação havia sido de 17,9%. Em dez anos, a Bolsa quintuplicou de tamanho, quanto ao número de participante, mas boa parte do salto se deu até 2010 – o número de participantes diminuiu no ano seguinte e, desde então, não cresceu nem 1% ao ano.

Vale lembrar que, em 2010, o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, projetava atrair para a bolsa 5 milhões de pessoas físicas em cinco anos – depois mudou o prazo para 2018, mas a meta ainda está muito distante: A Bovespa encerrou o ano de 2013 com 589.276 participantes. O número considera cada CPF cadastrado em cada agente de custódia, ou seja, o mesmo investidor pode ser contabilizado mais de uma vez caso possua conta em mais de uma corretora. O total é 0,36% superior ao de 2012 – e 3,54% inferior ao de 2010, quando a Bovespa teve seu maior número de participantes nos últimos anos: 610.915.
Em maio do ano passado, o número de pessoas físicas chegou a 637.198. Aquele foi o mês da oferta pública inicial do BB Seguridade, que atraiu muitos participantes. Daí até o final do ano, o número caiu, assim como o Ibovespa e ações, até então, muito significativas dentro do índice.
Em 2013, a Bolsa ficou marcada pelo desempenho trágico das ações do Grupo X. “A imagem ficou prejudicada”, segundo William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV-EAESP. A OGX tinha um papel relevante no principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa – que mudou sua metodologia no ano passado – e passou a valer centavos, além de ficar fora do Ibovespa segundo a nova metodologia.
A imagem de que a Bolsa é um casino ficou reforçada, segundo Eid. O professor defende que a Bolsa pode ser interessante para todo mundo, mas ganha dinheiro quem é disciplinado.
A existência de taxas de juros elevadas no Brasil é quase um convite a manter o dinheiro fora da Bolsa, segundo Michael Viriato, coordenador do Laboratório de Finanças do Insper. A relação entre o índice S&P 500 e o retorno de títulos nos Estados Unidos – vantajosa para a Bolsa – é o oposto do que ocorre no Brasil, segundo o professor.
Bovespa encerrou 2013 com 589.276 participantes, número 0,36% superior ao de 2012

- Número de participantes segue próximo da estabilidade desde 2010; alta taxa de juros é um dos causadores de desinteresse, segundo especialista

Segundo Eid, investir na Bolsa ainda é complicado, especialmente quando o investidor pensa que durante toda a sua vida ganhou mais na renda fixa. “Em 2007, prevíamos 70 mil pontos para a Bolsa. Hoje, está por volta dos 46 mil pontos e ladeira abaixo. É muito complicado. O sujeito olha para a Bolsa como um negócio de muito risco. Outro problema é que não conseguimos criar uma cultura de investimento de longo prazo”, afirmou.
De forma geral, as pessoas também não sabem como investir, segundo Viriato. “Às vezes a pessoa tem o dinheiro mas acha que Bolsa é para quem tem milhões”, afirmou. Para Viriato, um valor suficiente para uma pessoa diversificar seu portfólio e começar a investir na bolsa de valores é 50 mil reais.
Para Viriato, além do desconhecimento, há a má orientação com relação a investimentos e ao perfil adequado de investidor para a Bolsa de Valores. Há pessoas que não tem o perfil, por serem mais conservadoras. “Muita gente taxa a Bolsa como um grande jogo porque não conhece, é mal orientada e não tem o perfil adequado”, afirmou Viriato.
Eid cita ainda um fator cultural das empresas. Em países como o Brasil, Alemanha e Espanha, as companhias buscam os bancos para financiar seus projetos – enquanto nos EUA e Japão, por exemplo, elas procuram a Bolsa.

Segundo Viriato, para a pessoa investir diretamente em ações – e não através de fundos – é necessário haver uma das duas condições: ter alguém que oriente em que investir ou ter um conhecimento muito bom do mercado.
Por: Beatriz Olivon - repórter de Mercados de EXAME.com

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