sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O fundo do poço é sempre mais embaixo.

  Vez ou outra nos vemos confrontados por situações delicadas e de difícil solução. Nada funciona e tudo parece contribuir para que os problemas se agravem rapidamente, como se fosse uma praga bem rogada por Murphy, o demônio do erro.
A lei mas conhecida de Murphy diz que o erro sempre ocorre na razão direta do mal que pode causar. O pão, quando cai, é sempre com a parte da manteiga para baixo, bem em cima do tantinho de sujeira que a vassoura deixou de varrer.
O recente aparente desfecho do caso Roger Pinto Molina, senador boliviano informalmente asilado na embaixada brasileira em La Paz, por mais de quatorze meses, é um exemplo nada exemplar. Ninguém saiu bem em nenhuma das fotos. E ainda restam alguns flashes para disparar.
Se fosse uma negociação, o pau da barraca ficou para ser chutado no último instante, e teve que ser feito por conta e risco abaixo do nível de competência. Quando quem deveria agir não o faz, nos níveis abaixo se cruza os braços ou se cruza a Bolívia de ponta a ponta, sem salvo conduto.
Se fosse uma venda, teria faltado approach, rapport, abordagem, argumento, interação e influência. Não houve proatividade, nem foco, sendo que basta uma dessas ausências para inviabilizar o resultado.
Negociações não comerciais são o recheio e a cereja do bolo. Como raramente possuem objeto material para onde podem e devem convergir os interesses e estratégias dos interlocutores, pedem inteligência situacional mais precisa, criatividade negocial mais abundante, cocriação mais humanista, integridade e ética, que dispensam adjetivo.
O mesmo se aplica às situações de venda em que o propósito é construir alianças, inventar oportunidades, transformar situações, mudar comportamentos e perspectivas. Não se vendem nem se compram coisas, criam-se possibilidades.
Faltou o que e aonde?
Nos negócios comerciais que buscam sinergias e tratam dos desejos e necessidades dos interlocutores ou das empresas que representam, os parâmetros casuísticos das fases negociais e dos processos de compra e venda emprestam claridade ao poço e limitam com bom senso sua profundidade.
Basta, no entanto, ignorá-los para tristemente descobrirmos que o fundo do poço, se existe, é sempre mais embaixo.

Da revista Exame  -  Por ALFREDO DUARTE - 29.08.2013 - 09h53

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